domingo, 9 de novembro de 2008




O Ditado Gráfico: A arte e o belo como mediação para o impulso lúdico



detalhe de desenho na parede de casa xacriabá - foto Verônica Mendes Pereira


O povo “Xacriabá”, como mostra um dos vídeos em exibição durante a mostra, tem o costume de pintar as suas casas com os pigmentos de terra coletada em sua região. Vivendo bem ao norte do Estado, enfrentam a seca por longos períodos do ano, durante os quais retratam, nas paredes de suas casas, as plantas,as flores e os bichos que vão desaparecendo aos poucos da paisagem.






Foto casa da caatinguinha - Verônica Mendes Pereira


Quando recomeça o período das chuvas, as pinturas das paredes se dissolvem, e o verde reaparece na janela. Assim, esta dura realidade não é captada de maneira passiva pelos Xacriabá. Este povo não apenas a sente, mas, num estado estético, coloca-se fora de si, contempla e recria o mundo diante de si, numa espécie de reflexão entre a passagem dos meros sentimentos vitais a sentimentos de beleza.



detalhe de desenho na parede de casa xacriabá - foto Verônica Mendes Pereira



Tendo a arte e a beleza como meio e perpassando pela materialidade da realidade, retorna-se ao ideal humano com integralidade, tal qual propôs o filósofo Schiller.
“O homem não existe para retornar à unidade perdida, mas sim para conquistar uma autonomia antes inexistente. A partir da alienação e fragmentação da vida terrena, ele tenta conquistar nova plenitude. Essa plenitude não permite o abandono do mundo; exige a sua transformação. A arte, em todas as suas extensões, é, nesse sentido, caminho da realização do homem e da transformação da natureza como suporte da liberdade humana.“(Veiga, 1994, p.154)






detalhe de desenho na parede de casa xacriabá - foto Verônica Mendes Pereira


Assim, discutimos sobre a capacidade que o homem tem de modificar seu ambiente, de torná-lo mais agradável. Falamos da estética e da sua importância em nossas vidas de uma maneira bem próxima do cotidiano.
Após esta introdução, fazemos uma pequena oficina de fabrico de tintas com terras. É bem simples: coletamos terras de vários tons, em potinhos descartáveis, e misturamos com cola branca e água. Terminamos com um ditado gráfico “Os seres da mata”, que são descrições míticas, feitas pelos índios,de criaturas que habitam as florestas.



Foto casa da caatinguinha - Verônica Mendes Pereira


As crianças, usando sua imaginação, pintam estes personagens que vamos descrevendo. “A ponte”, que liga o nosso Museu ao canteiro de obras, hoje está repleta de criaturas inimagináveis.







NO MUSEU MINEIRO










" impressionou-me a convivência da aridez daquela vida com a leveza de suas pinturas. Casas plantadas nas areias brancas da caatinguinha. "Um dia a areia branca seus pés irão tocar". Esperança que move num deserto de procuras. Tudo lembra o mar: o sol , a areia, o céu azul, o vento. Mas não havia água. E me perguntei: numa situação tão precária, o que leva as pessoas a colorir assim as suas casas, com as mãos, com os próprios dedos, numa espécie de decoração para suas vidas, como se dissessem: " e eis o meu único brilho?¨(Verônica Mendes Pereira).



"As mulheres trazem para as paredes das casas o que a natureza vai lhes tirar com a seca: as folhagens, os bichos, os "pés - de - plantas". E assim poderão se alimentar espiritualmente do que vai lhes faltar fisicamente" (Verônica Mendes Pereira).


"fazem, isto talvez, para recuperar na paisagem, a vida que na natureza, durante a seca, irá roubar. É uma ação que guarda a forma de resistência. É uma delicada afirmação da presença do homem naquele lugar, naquela paisagem: sobre a parede das suas casas, eles recriam um jardim. É o jardim que nasce da memória atávica e ancestral das pessoas que ali habitam. É uma lembrança que se perde no começo de tudo. É o jardim primordial - um jardim construído pela arte. A arte que se prende ao ciclo da vida". (Francisco magalhães)

"flecha" - desenho de Elzio M. Mota

Vídeos, que tratam da vida em diferentes aldeias, foram exibidos e mostram a intensa interação destes povos com a natureza, valorizando as brincadeiras das crianças, os jogos , as lendas, os mitos, os costumes.
. Os jogos indígenas: o importante não é ganhar, mas sim celebrar: é a VI edição de jogos de povos indígenas. São 33 etnias do Brasil e de outros países, realizando diversas modalidades de jogos, confraternizando-se.
. Das crianças ikpeng para o mundo: trata-se do cotidano destas crianças em sua aldeia. Elas próprias, de uma forma bastante espontânea e divertida, vão nos apresentando as suas diversas atividades à medida que provocam a interlocuação com as crianças que assistem ao vídeo.
. Kinja Iakaha, um dia na aldeia: o dia-a-dia na aldeia Cacau
. Cheiro de pequi e O dia em que a Lua menstruou: tratam da mitologia do povo Kuikuro.
A sessão inicia-se com uma apresentação breve do tema. Na sequência são dadas outras informações sobre a cultura destes povos e suas singularidades. Ao término da sessão, as crianças são levadas a refletir sobre o que viram.



Os filmes apresentados, em sua maioria, são feitos por cineastas indígenas e produzidos pelo link:

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